segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Diário de pibidiana: A vez dos contos na biblioteca

Juliana Mazini (3 ano da Pedagogia Pibid/Pibic UEMS)

            
            Na semana passada iniciamos na Biblioteca Viva o trabalho com contos rompendo com a ideia, presente na cabecinha da maioria das crianças que participam das atividades, de que contos estão relacionados apenas a "era uma vez", "princesas" e "viveram felizes para sempre".

            Para isso, propusemos que as crianças fechassem os olhos e que imaginassem, conforme narrávamos, uma viagem no tempo para que elas compreendessem o contexto em que os contos maravilhosos começaram a tomar a forma de livros. Elas passearam por uma floresta na Europa em tons de cinza, sentiram o cheiro da lenha queimando e ouviram o barulho das rocas misturado ao riso de mulheres que, enquanto fiavam, contavam histórias permeadas pela realidade que as envolvia e pelos medos que sentiam. Depois, souberam que, mais tarde, quando Gutenberg já havia revolucionado a história com a invenção da prensa, alguns homens recolheram histórias, que existiam desde o tempo da cena imaginada, e as reuniram em um livro. Entraram em cena os irmãos Grimm e Charles Perrault.

            As turmas aprenderam que, com o passar dos anos, os contos sofreram "cortes" de cenas fortes até que chegassem às "versões Disney" e às releituras quase isentas de maldade, bastante disseminadas nos nossos dias.
            Mas a estrela da primeira semana dos trabalhos da Biblioteca Viva foi quem fez dos contos a sua própria história (ou da sua história os seus próprios contos...): Hans Christian Andersen. A obra "A pequena vendedora de fósforos", mesmo escrita na linguagem de antes de ontem, deixou na biblioteca um silêncio imperioso, quebrado, às vezes, por um ou outro suspiro e regado por lágrimas. Um vídeo ilustrativo complementou o trabalho e apresentou outra perspectiva do enredo.



            Na sequência das atividades, a semana que antecedeu a comemoração do Halloween proporcionou-nos o cenário ideal (e a desculpa perfeita) para convidarmos Jacob e Wilhelm Grimm para nos contar alguma história -daquelas mulheres fiandeiras em sua versão primitiva.

            Naturalmente, falar de Halloween com as crianças sem contextualizar sua origem, seus significados e suas representações seria um crime. Elas precisaram voltar à Europa Ocidental, serem apresentadas ao povo celta para vislumbrar um tiquinho de suas tradições, ver chegar às suas terras o Império Romano, enfim... precisavam ver essa "mistureba" de culturas se esparramar pelo mundo. Isso demandou uma parada no México, afinal as crianças já conheciam um pouco da relevância da morte para esse povo porque não deixamos que isso o tema passasse batido quando lemos a obra "Só mais um minutinho", de Yuyi Morales. Conhecer a influência dos Estados Unidos também foi fundamental nessa trilha, afinal é de lá que nós, brasileiros, adotamos essa tradição cultural (um crédito para as escolas de inglês).

            Tudo isso exigiu a preparação de um ambiente especial. A biblioteca da escola precisou ser adaptada. A escuridão da sala, forrada por um grosso tecido preto que barrou a luz das janelas, somada à luz da lanterna, que ora iluminava os nossos rostos sob contornos distorcidos, ora iluminava alguns "fantasmas-copos" pendurados no teto, criou um ambiente deliciosamente assustador. O alvoroço das crianças com a novidade foi inevitável, contudo, com o decorrer das leituras não tardou a ceder espaço para o silêncio e a atenção.




 E os autores chegaram! Vieram nos visitar os irmãos pioneiros dos contos maravilhosos e trouxeram o conto “O pé de zimbro”, com irmão-pássaro entoando a canção "Minha mãe me matou, meu pai me comeu, minha irmã me recolheu...", juntando presentes pelo caminho, dentre os quais a pedra de moinho que lhe devolveria a vida. O tempo das crianças na Biblioteca Viva se esgotou junto com a leitura desse conto e elas nos deixaram. Deixaram também a professora Kátia, nossa supervisora no Pibid, apavorada com a possível reação dos pais no dia seguinte (risos)..

 Assim ocorreu com as turmas dos quinto anos. Já com o terceiro... Com o terceiro a gente "pegou mais leve" e deu uma folga para os Grimm. A leveza da leitura, por sua vez, também dialogou com o cenário, com a data e com o ambiente instaurado. "Morto Vivo", de Cristian Santos e Augusto Figliaggi (que saiu daqui de pertinho, da Capital), coloriu o Halloween com a mistura de cores e de culturas, cuja discussão foi oportunizada pela história da tradição em questão. Além de conhecer o Halloween, as crianças descobriram de onde vem o verde enquanto, com tinta amarela e azul, coloriam os paper toys dos protagonistas da história, um suplemento integrante da obra explorada.

        



              Saí da escola com a sensação que há muito tenho experimentado: a de satisfação! A sensação de retomar os objetivos de nosso projeto com as minhas companheiras de trabalho e concluir que estamos no caminho certo, nós, que estamos nos formando educadoras mediadoras de leitura. Com as atividades estamos contribuindo pra que as crianças descubram um mundo sem limites, formem um arcabouço literário e construam ferramentas de leitura para o seu próprio universo e tanto mais...
            Semana que vem a Biblioteca Viva receberá o Saci, agarrado no gancho deixado pelo Halloween por uma mão e com a outra trará seu pito... Estou contando os dias! 

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